Primeiro deputado cego, Felipe Rigoni quer eficiência do Estado e reformas propositivas
Sérgio Francês/Lid.PSB |
 |
Rigoni está satisfeito com as normas de acessibilidade da Câmara |
|
Natural de Linhares (ES), o jovem Felipe Rigoni é o primeiro deficiente visual da história do Brasil a se tornar deputado federal. Eleito com mais de 84 mil votos, o socialista chega ao Parlamento para lutar por mais eficiência do Estado e combater as desigualdades sociais. Aos 15 anos, Rigoni perdeu a visão após várias cirurgias para conter uma inflamação ocular chamada uveíte, detectada ainda na infância. Mas esse acontecimento não limitou a vontade de lutar por um país melhor.
Aos 27 anos, o deputado tem diploma em engenharia de produção pela Universidade Federal do Ouro Preto e fez mestrado em políticas públicas na Universidade de Oxford. Suas principais propostas para esta 56ª Legislatura são o acesso de pessoas cegas ao ensino regular, superior e cursos técnicos com autonomia e liberdade, além da ênfase em defender as reformas política e tributária. Conheça mais sobre o parlamentar na entrevista a seguir.
O que o senhor destaca de mais importante no processo para se candidatar a deputado federal?
Para eu tomar essa decisão de me tornar deputado, optei por uma candidatura propositiva, ou seja, baseada em propostas claras e bandeiras a serem defendidas. Alguns exemplos são a reforma tributária, o ajuste fiscal e o combate às desigualdades. Essa candidatura só era possível se fosse a federal, pois as candidaturas para deputado estadual ainda estavam muito fisiológicas no meu estado. Percebendo isso, arrisquei e percebi que, se não mudarmos Brasília (no âmbito político), não conseguiremos mudar o Brasil. Acredito que no Congresso é que começamos a resolver os problemas de uma forma geral. Eu percebi que as pessoas respondem quando damos a elas a oferta de um candidato preparado e viável, contrariando dessa maneira aquela crença de que o povo “vota mal”. Votamos mal quando não temos opção. Percebi isso não só em minha candidatura, mas como diversas outras, como a do JHC, por exemplo. De uma forma geral, estou bem esperançoso com a democracia brasileira.
Quais suas principais bandeiras para esta 56ª Legislatura?
O que mais importa para que nossas bandeiras sejam defendidas agora é a eficiência do Estado. É preciso que ele seja capaz de implementar políticas públicas de qualidade para todos. Isso exige uma gestão de pessoas muito melhor para exercerem cargos de relevância. É um absurdo a quantidade de indicações políticas quando, na verdade, precisamos avaliar constantemente o desempenho desses cargos e pessoas, que certamente seriam recompensadas de forma mais justa pelo seu trabalho. Ainda precisamos mais do que isso, o Estado precisa de um desenho institucional que inclua as mais diferentes regiões e setores da sociedade e que faça política em evidência.
O senhor já tem algum projeto em vista para apresentar nesse início de ano?
Estamos em contato constante com grupos de pesquisa, um deles pertence à Fundação Getúlio Vargas (FGV), e que trabalham com produtivismo includente, eficiência do Estado e outras áreas como mudanças na Lei da Improbidade, porque o jeito como essa lei é aplicada trava o funcionamento das prefeituras e de outras autarquias. Queremos de fato “destravar” o governo para que tudo funcione da forma correta, tanto no setor público como no privado.
Na sua opinião, a Câmara dos Deputados está adaptada às normas de acessibilidade vigentes? Houve alguma mudança significativa após a chegada do primeiro parlamentar com deficiência visual?
Fui muito bem recebido, tanto pela Casa quanto pelos meus colegas de partido e demais parlamentares. Houve algumas adaptações sim, como nas mesas e cabines de votação, alguns softwares foram adquiridos para que eu consiga navegar nos sistemas da Câmara. Além do mais, terei um guia em tempo integral para me acompanhar nas votações e deslocamento para outras áreas. Acredito que tudo esteja em conformidade com o que a Lei de Acessibilidades estabelece.
Qual mensagem o senhor gostaria de deixar para seus eleitores?
Bom, serão anos muito difíceis, principalmente pelo momento que o Brasil atravessa. A economia precisa crescer, a polarização precisa acabar, temos que combater a corrupção e o povo clama por ações eficientes do Estado. Para que tudo isso aconteça, precisamos atravessar um processo que não é fácil, especialmente com o Brasil tão grande e diverso. Com um mandato mais próximo da população através de aplicativos e gabinete itinerante, vamos conseguir traduzir o que acontece em Brasília para a vida das pessoas no dia a dia. Dessa maneira, vou procurar, nesses quatro anos, dar mais esperança para meus eleitores do estado e a toda população brasileira.