A Comissão de Indústria, Comércio e Serviços debateu, nesta terça-feira (22), a transformação econômica e o futuro da indústria no Brasil. Presidente do colegiado, o deputado Heitor Schuch (PSB-RS) solicitou a audiência pública com o objetivo de impulsionar as discussões a respeito do cenário da crescente desindustrialização que assola o País.
O parlamentar defendeu a elaboração de propostas capazes de fundamentar um plano estratégico para reerguer o setor industrial. “Temos que posicionar o Brasil como líder global de descarbonização, transição energética, economia digital, valorização das cadeias produtivas, inovação tecnológica e segurança alimentar”, reforçou Schuch.
Hoje, a participação da indústria brasileira no Produto Interno Bruto (PIB) é de apenas 11%, contrastando com os números da década de 80 que chegavam a 20%. “A indústria responde por quase um terço da arrecadação tributária. Entretanto, a sua participação no PIB vem diminuindo, desencadeando um impacto negativo sobre o crescimento econômico e resultando em uma paralisia indesejada e custosa”, lamentou.
O parlamentar destacou que especialistas classificam a desindustrialização brasileira como precoce e severa. Diferentemente de outros países como os Estados Unidos e a China que experimentam expansões substanciais em suas indústrias.
Indústria sustentável
O novo governo vem defendendo o desenvolvimento industrial sustentável, capaz de gerar emprego e distribuição de renda. De acordo com o representante do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Felipe Machado, a desindustrialização brasileira é considerada a mais grave entre as 30 maiores potências mundiais, mas que agora há determinação política, com metas ambiciosas, para uma reindustrialização com foco na sustentabilidade.
Machado afirmou que é preciso focar nos caminhos que podem trazer esse desenvolvimento. “Um exemplo é o investimento na bioeconomia e biotecnologia. Temos a maior biodiversidade do mundo, essa é uma vantagem que pode colocar a indústria brasileira em competitividade internacional”, disse. Ele acrescentou que o Congresso será importante parceiro nesse processo de reindustrialização nacional.
Para Schuch, os investimentos em inovação podem integrar o Brasil às redes globais de valor, com papel proeminente na descarbonização da economia global. “Em um panorama internacional repleto de transformações profundas, os desafios relacionados a cadeias de suprimento, regulamentações e preservação ambiental ganham destaque e influenciam os fluxos comerciais globais”, afirmou.
O fortalecimento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também assume relevância na busca pela revitalização industrial, segundo o socialista. “O papel do BNDES como financiador de projetos de infraestrutura, especialmente voltados para a transição energética e a sustentabilidade, é fundamental, contando com especialistas em clima e meio ambiente em sua administração.”
Sofisticação industrial
O doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas, Paulo Gala, afirmou que o Brasil só vai participar desse movimento de sofisticação industrial dos países que estão investindo pesado na reindustrialização se desenhar políticas industriais que invistam nas engrenagens tecnológicas. “O Brasil está estagnado a praticamente três décadas. Não há riqueza econômica sem sofisticação produtiva que está ancorada no setor industrial”, reforçou.
A diretora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Fernanda de Negri, defendeu o investimento em programas de pesquisa e desenvolvimento mais integrados a cadeias globais de valor, com redução de burocracia. “Precisamos de estratégia e foco. Apostar em áreas que podemos desenvolver tecnologias a serem aplicadas no setor industrial, como é o caso das mudanças climáticas. Não faz sentido o Brasil não ter uma estratégia e posição clara nesse tema”, disse.