CPMI do Golpe: Duarte e Gervásio apontam omissão de Anderson Torres ao transferir culpa de abertura da Esplanda para a PMDF

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos antidemocráticos ouviu, nesta terça-feira (8), o depoimento de Anderson Torres, a pedido do deputado Duarte (PSB-MA) e de outros parlamentares do colegiado. Ex-ministro da Justiça do Governo Bolsonaro e secretário de Segurança Pública do DF na época da tentativa de golpe no 8 d janeiro, Torres é figura central nas investigações da CPMI. Ele foi preso em janeiro deste ano, após ser acusado de conivência e omissão diante dos atos criminosos que resultaram na depredação das sedes dos Três Poderes.

No dia 8 de janeiro, Torres estava de férias na Flórida, mas argumentou na CPMI que deixou um plano de ação preparado para eventuais problemas que pudessem ser causados nos atos marcados entre os dias 7 e 9 de janeiro. Só que as férias do então secretário de Segurança estavam marcadas à partir do dia 9 de janeiro. Duarte perguntou ao depoente o motivo de ter se ausentado antes do início das férias e de quem é a culpa pelo que aconteceu, já que Torres alegou que se o Plano de Ações Integradas (PAI) fosse seguido à risca nada teria acontecido.

“O secretário-interino Fernando Sousa afirmou que não recebeu nenhuma informação na transição e no dia 8 janeiro não era formalmente responsável pelo cargo. Se o senhor deixou um vácuo descoberto nesses dias, então de quem é a culpa? Da Polícia Militar? Quem era o real responsável?” questionou o parlamentar, sem obter resposta de Torres.

Duarte também perguntou quem recebeu o ofício enviado no dia 7 de janeiro pelo Ministério da Justiça para a Secretaria de Segurança do DF, pedindo autorização para que a Força Nacional de Segurança Pública auxiliasse na ordem e patrimônio público, no perímetro entre a rodoviária de Brasília e a praça dos Três Poderes. “Se o senhor já estava viajando, mas ainda oficialmente no cargo, quem recebeu esse documento?”

Anderson Torres alegou que se soubesse dos riscos não teria viajado e que nada indicava que aconteceria algo nesse sentido. No entanto, na semana passada, o ex-diretor da Abin Saulo Moura afirmou, na CPMI, que foram enviados alertas para as forças de segurança, inclusive para a Secretaria, sobre os riscos de depredação dos prédios públicos e o uso de armas pelos manifestantes.

O deputado Gervásio Maia (PSB-PB) também criticou a viagem de Anderson Torres em um momento de tanta tensão no País. De acordo com o socialista, a viagem para fora do Brasil deve ter sido planejada e calculada. “A baderna estava generalizada, qualquer pessoa sabia dos riscos e do clima de tensão que tomavam conta do País. E o secretário de Segurança decide viajar, antes do prazo das férias, ciente de que havia um clima de instabilidade e ameaças permanentes daqueles insatisfeitos com o resultado das urnas”, lamentou.

Polêmicas envolvendo Anderson Torres:

Durante uma busca e apreensão na casa do ex-ministro, foi encontrada uma minuta com um plano detalhado para um golpe de Estado. Torres disse que não lembra de quem recebeu o documento, mas que deve ter sido de um popular. Ele argumentou que a minuta estava na casa dele para ser descartada. Mas, segundo a relatora da CPMI, Eliziane Gama (PSD-MA), a Polícia Federal encontrou o documento dentro de uma pasta, no armário, guardada.

Considerado braço direito do ex-presidente, Torres participou, enquanto ministro da Justiça, de uma live em que Bolsonaro atacou o sistema eleitoral com dados falsos e distorcidos. Além disso, a Polícia Federal investiga uma viagem do ex-ministro à Bahia, na véspera do segundo turno das eleições presidenciais. Há suspeita de que Torres tenha viajado para pedir apoio da PF à Polícia Rodoviária Federal para tentar impedir ou dificultar eleitores da região, onde Lula tinha mais votos, a votar.