Descaso do Governo Bolsonaro é responsável pela expansão de garimpos ilegais em Roraima

Em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Minorias, os deputados Camilo Capiberibe (PSB-AP) e Bira do Pindaré (PSB-MA) denunciaram a omissão do Governo Federal em relação à preservação e à garantia da segurança nas áreas indígenas demarcadas. Como resultado, houve aumento no número de denúncias relacionadas a garimpos ilegais. Segundo os parlamentares, o descaso em relação aos povos originários é emblemático e faz parte do “ideário” do atual presidente.

As críticas foram feitas ao ministro da Justiça e da Segurança Pública, Anderson Torres, que compareceu à Comissão, nesta quarta-feira (24), para prestar esclarecimentos sobre a morte de duas crianças da etnia Yanomami, causada por uma draga de garimpo irregular instalada na terra indígena localizada em Roraima.

Para Camilo Capiberibe, um dos autores do requerimento de convocação do ministro, “o presidente nunca escondeu a sua antipatia para com os povos originários brasileiros”. O socialista lembrou, ainda, que Bolsonaro fez pronunciamentos onde disse ser injusto criminalizar garimpeiros no País.

Anderson Torres argumentou que o crescimento das atividades irregulares na região tem relação direta com a crise humanitária na Venezuela. O ministro disse que, além dos venezuelanos que entraram regularmente no Brasil, outros cruzaram a fronteira sem qualquer registro e encontraram nos garimpos irregulares a sua fonte de renda. Esta tese foi refutada pelo deputado Bira do Pindaré. “Quem defendeu a extinção da Funai, reduziu o orçamento dos órgãos de controle ambiental e tudo aquilo que diz respeito à proteção da população indígena no Brasil foi Bolsonaro. Não consigo entender o raciocínio quando diz que a culpa é da Venezuela”, afirmou.

MORTE NO RIO – No dia 12 de outubro, dois meninos, de 5 e 7 anos, pertencentes a comunidade Yanomami brincavam na beira do rio Parima, que banha a região, quando foram sugados por uma draga de um garimpo ilegal. O primeiro corpo foi localizado no dia seguinte por moradores da própria comunidade. Já o corpo da outra criança foi encontrado somente no dia 14, por uma equipe de bombeiros.

A Terra Indígena Yanomami onde ocorreu o acidente fica próxima do município de Alto Alegre e é alvo constante de atividades ilegais de garimpo e de desmatamento. Frequentemente os indígenas são agredidos, ameaçados e atacados por garimpeiros.

Apesar de ter sido o principal motivo para a realização da reunião da Comissão, a morte das crianças Yanomami especificamente foi o tema menos abordado. De acordo com o chefe da Delegacia de Repressão aos Crimes contra o Meio Ambiente da Polícia Federal, Gilberto Kirsch Jr, responsável pela investigação do caso, o inquérito ainda não foi concluído. “Somente após isto será possível afirmar se houve relação das mortes com a presença de balsas no local”, afirmou. O delegado relatou que, devido à localização remota da comunidade onde as crianças viviam, quando os policiais chegaram, não havia qualquer estrutura de mineração na região.