O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Apostas, deputado Felipe Carreras (PSB-PE), recebeu das mãos do procurador-geral da Justiça do Ministério Público de Goiás (MPGO), Cyro Peres, todas as provas já concluídas pela Operação Penalidade Máxima – destinada a investigar a manipulação de resultados do futebol brasileiro.
Além de Cyro, a CPI ouviu, nesta terça-feira (30), o promotor do MPGO Fernando Cesconetto e o presidente do Vila Nova Futebol Clube, Hugo Bravo, autor das denúncias que levaram o Órgão a desvendar o esquema de corrupção que já atinge as séries A e B do futebol brasileiro. “Vamos colaborar com o colegiado. Ainda há investigações em andamento, com cautelares e outras medidas sob sigilo que, assim que forem concluídas, serão repassadas”, afirmou o procurador-geral.
Até agora, segundo os membros do MPGO, foram identificados jogos nos campeonatos brasileiro de 2022 e em jogos estaduais do primeiro semestre de 2023. As manipulações não necessariamente são no resultado das partidas, mas na tomada de cartões amarelos e vermelhos, em pênaltis e escanteios, que podem resultar em lucros de até R$2 milhões. Eles também informaram que, por enquanto, não há indícios de envolvimento de juízes e dirigentes de clubes.
Questionado pelo relator, o promotor Cesconetto revelou que há indícios de manipulação de resultados em outros campeonatos estaduais de futebol neste ano, além do Paulista e Gaúcho, já identificados pela operação. O deputado perguntou ainda até que ponto a falta de regulamentação do setor facilita a atuação das quadrilhas e se os fatos apurados podem ter comprometido o resultado dos campeonatos.
“A falta de regulamentação e o não estabelecimento de responsabilidades prejudica a apuração. Não podemos ficar sempre dependentes de iniciativas do clube, como o que aconteceu agora, para que as informações cheguem para a apuração”, disse Cesconetto.
Ele acrescentou que, por enquanto, não se vê uma questão generalizada, mas pontual, de jogos e atletas específicos, não comprometendo o resultado dos campeonatos. “Até agora identificamos uma divisão de núcleos nas organizações criminosas com financiadores, apostadores, intermediadores e ainda apoio administrativo. E não descartamos que tenham mais envolvidos”, disse.
Carreras, autor do requerimento para a instalação da CPI, parabenizou a atitude corajosa do presidente do Vila Nova, que, segundo ele, deu conhecimento ao maior escândalo da história do futebol brasileiro. “Agora o parlamento brasileiro está desafiado não só a aprofundar, mas somar esforços com os ministérios públicos e instituições como a Polícia Federal, para dar resultado. Tudo que estamos assistindo coloca em xeque a credibilidade dos campeonatos que estão acontecendo e os que já aconteceram”, disse o parlamentar.
O relator afirmou que é preciso pensar em um resultado punitivo, mas também educativo, com a elaboração de uma legislação para proteger um dos maiores patrimônios brasileiros, o futebol.
Membro da CPI, o deputado Eduardo Bandeira de Mello (PSB-RJ), parabenizou a atuação do presidente do Vila Nova Futebol Clube, que chamou de heróica e ainda da posterior investigação feita pelo MPGO. “Eles podem nos ajudar a pensar na melhor forma de regulamentação do setor de apostas esportivas, com as suas experiências”, afirmou Bandeira.
O socialista teve seu nome destacado por Hugo Bravo, pela sua gestão na presidência do Flamengo. O presidente do Vila Nova disse que se espelha no trabalho que Bandeira fez no clube rubro-negro. “Ele não buscou fazer o que era conveniente, mas o que era certo”, reforçou. Entre 2013 e 2018, Bandeira de Mello foi presidente do Flamengo e um dos grandes responsáveis pela reestruturação financeira e administrativa do clube.
Hugo acrescentou em sua fala que a Operação Penalidade Máxima veio em um momento importante. “Se a investigação acontecesse nos próximos três, quatro anos, o futebol estaria completamente contaminado.” Ele defendeu ainda que a regulamentação das apostas esportivas não devem ser apenas com fins arrecadatórios, mas fiscalizatórios, como ferramenta para proteger o futebol brasileiro, “que representa 1% do PIB brasileiro, além de ser o maior exportador de atletas do mundo”.