Por Lídice da Mata
Artigo publicado originalmente no jornal A Tarde em 13.8.2020
Há exatos seis anos perdíamos Eduardo Campos. Dias antes do acidente aéreo que lhe ceifou a vida, estivéramos juntos numa intensa agenda de campanha em Salvador, quando o recebemos com o entusiasmo e a animação típicos dos soteropolitanos. A candidatura presidencial de Eduardo estava em um momento decisivo e precisávamos ocupar as ruas.
Lembro da motivação, diria mesmo da alegria que ele se dedicou àquelas atividades. Começamos cedo, logo após o café da manhã encerrado com seu grito de guerra: “Vamos pegar no serviço!” e um largo sorriso.
Eduardo era um político na expressão maior e mais generosa dessa palavra. Aos 50 anos já acumulara um currículo notável. Secretário de Fazenda de Pernambuco, deputado estadual e federal, ministro e governador por duas vezes. Reunia duas qualidades difíceis de se encontrar tão bem pronunciadas numa só pessoa: a habilidade de unir pessoas e capacidade de gestão.
O talento para a vida pública herdou do avô, Miguel Arraes, assim como o jeito para cuidar do povo. Seus compromissos com a justiça social, o desenvolvimento inclusivo e a igualdade faziam parte de sua formação pessoal.
Em seu governo, em Pernambuco, teve papel marcante na modernização da infraestrutura para a atração de novos investimentos públicos e privados e também se preocupou com o seu povo, implementando programas de combate à pobreza e de inclusão social. Na educação, quase triplicou os investimentos, alcançando R$ 4 bilhões, uma cifra antes inimaginável.
Teve significativas realizações em praticamente todas as áreas das políticas públicas. Na segurança, implementou o programa Pacto pela Vida, que já no seu primeiro mandato reduziu em 39% o índice de homicídios no estado.
Também se preocupou com as mulheres, ao criar o Mãe Coruja, programa reconhecido pela ONU, que tinha por meta reduzir a taxa de mortalidade infantil. Deu ainda atenção especial às produtoras rurais.
Aprovado por 76% dos pernambucanos, lançou-se candidato a presidente. Acreditava ser possível uma terceira via na política nacional, oferecendo alternativas para um Brasil justo e solidário. Sua inesgotável capacidade de diálogo faz falta nesses dias de tragédias e crises tão profundas. Sua habilidade de se afastar de sectarismos e dos ruídos tão naturais nas disputas políticas e enxergar saídas mais além, sem medo do futuro, deixam um vazio difícil de ser suprido.
Sua última mensagem, ao encerrar a uma entrevista em rede nacional na véspera do acidente, é para nós um grito de esperança: “Não vamos desistir do Brasil!”. Nunca desistiremos, Eduardo. Mas confesso que com a sua liderança essa tarefa seria bem menos árdua.