A pedido de Lídice, Comissão realizou audiência sobre o Projeto Axé e seu fundador

A Comissão de Educação promoveu, nesta segunda-feira (30), audiência pública para debater projetos idealizados pelo italiano Cesare de Florio La Rocca, fundador do Projeto Axé na Bahia, responsável por atender crianças e adolescentes em situação de extrema vulnerabilidade social, por meio da arte e da educação. Autora do requerimento que solicitou a reunião, a deputada Lídice da Mata (PSB-BA) sugeriu ainda uma homenagem ao legado do trabalho de La Rocca como um instrumento de intervenção e impacto social.

De acordo com Lídice, o debate e a homenagem são fundamentais para chamar a atenção da necessidade de continuidade do Projeto Axé. “Hoje o projeto atende mais de 30 mil crianças, adolescentes e jovens. Por meio da Pedagogia do Desejo, metodologia criada por Cesare e aprovada pelo patrono da Educação Paulo Freire, eles tiveram e têm acesso a ações educativas e culturais nas linguagens da capoeira, dança, música, artes visuais e moda. O Projeto Axé foi, sem dúvida, um marco na política pública de acolhimento. Temos que manter acesa a chama dessa importante ação que levou arte e educação para milhares de crianças e adolescentes”, reforçou a socialsita.

Luciana Xavier dos Santos é o exemplo de que o projeto é de extrema importância. Agora gerente da Unidade Arteducativa do Projeto Axé, no Pelourinho, Luciana chegou ao programa em 1997. “Foi nas palavras de Cesare que entendi a ideia de promover a educação entre crianças e adolescentes em situação de rua e foi no projeto que fui me transformando enquanto cidadã e sujeita de direito. Nesse processo, nessa casa, nesse lugar de transformação compreendi que a beleza da arte seria um grande instrumento. Vimos a cidade ser transformada pela arte e pela educação”, reforçou.

História:

Cesare chegou ao Brasil nos anos 60 para atuar como missionário entre indígenas na Região Amazônica. Mas foi em 1990 que o italiano chegou a Salvador e iniciou seu trabalho com o mapeamento de pessoas vivendo em situação de rua no Brasil. A atual presidente do centro Axé, Ená Benevides, acompanhou esse mapeamento que foi, segundo ela, fundamental para o desenvolvimento do projeto. “Tudo sempre foi muito bem discutido e pensado e por isso o projeto está vivo até hoje”, disse.

De acordo com o coordenador de Arteducação do Projeto Axé, Marcos Candido, a pesquisa e mapeamento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade foram essenciais para o projeto. “Uma das questões mais importantes e que atravessa toda a história do projeto é a ideia dele de que o trabalho com crianças não podia ser improvisado. A informação e a produção de conhecimento sempre foram elementos centrais”, afirmou.

Marcos destacou ainda a parceria com Paulo Freire, patrono da educação, que foi fundamental para estabelecer princípios para a efetivação do projeto. “Uma das suas importantes ideias foi a de ouvir as crianças e adolescentes. Ele dizia que só se podia melhorar a educação dos oprimidos se eles participassem da construção de sua libertação”, acrescentou.

Cesare, que foi representante do Fundo Das Nações Unidas para Infância (Unicef) e um dos redatores do Estatuto da Criança e do Adolescente, faleceu no dia 15 de setembro do ano passado, aos 83 anos. Para Lídice, os projetos do italiano podem ser um dos caminhos assertivos para definir melhor os rumos para as políticas sociais e educacionais da juventude no País, sobretudo neste momento de crise com o aumento da vulnerabilidade social das crianças e adolescentes.